Muito se fala sobre o sagrado nome divino (YHWH), e a pronúncia mais correta para o nome divino. Mas o que sabemos sobre isso? Acima de tudo, qual é a forma correta de se pronunciar o nome divino? E por que usar ou deixar de usar uma ou outra forma?
Infelizmente, a pronúncia correta foi perdida durante a era do 2º templo, pois, a partir do século III a. C., então não se tem uma pronúncia “correta”, porém existem pronúncias mais e menos aproximadas, tanto em sentido, quanto em fonologia. Então, não faz sentido colocar um nome como verdade absoluta. Porém, há formas mais e menos corretas, assim como argumentos mais e menos favoráveis para cada um dos nomes, gerando uma discussão tanto acadêmica quanto religiosa, e é sobre essa confusão que este texto se dedica a analisar.
As mais utilizadas no momento são:
- Javé (Yahweh)
- Jeová (Yehowah)
O fato é que a forma utilizada desde o século XII até o século XIX, introduzida pelos massoretas, é uma mescla do tetragrama YHWH com a palavra Adonai (Senhor), e não é exatamente “errada”, embora existam controvérsias. A palavra chegou a ser usada tanto por católicos quanto por protestantes (como admitem a Veritatis e a Ateleia), e ainda hoje é a pronúncia mais popular.
Enquanto isso, Javé (Yahweh) é associada ao nome divino por causa de sua tradução literal (eu sou), que faz referência ao aparecimento mais comum do tetragrama na Torá, em Êxodo 3:14: “אהיה אשר אהיה”, que, em tradução livre, significa “eu sou o que sou”. Essa passagem ainda faz referência a outro trecho do Novo Testamento (João 8:58), onde é dito “ἀμὴν ἀμὴν λέγω ὑμῖν, πρὶν ἀβραὰμ γενέσθαι ἐγὼ εἰμί”, que, em tradução livre, fica “Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão fosse feito, eu sou”. A ambiguidade de sentidos e o jogo de palavras, marcos da literatura bíblica, fazem parte da interpretação das escrituras, e é necessário possuir conhecimento destes para que se possa realizar uma análise mais assertiva do texto. E é por isso que o nome “Yahweh” é o usualmente optado pela Igreja Católica e por várias denominações protestantes, costume adotado a partir do século XIX.O uso acadêmico de Yahweh, em detrimento de Yehowah, também é apontado por várias sociedades bíblicas ou de tradução, como a United Bible Societies, embora as publicações também digam que o uso de Senhor pode ser preferível para Bíblias de púlpito ou para uso litúrgico.
O caso com a palavra Aleluia (הללויה) também é interessante, já que Aleluia é uma palavra composta, unindo os significados de alelu (הללו), que é uma forma de se louvar alguém, algo ou alguma coisa, e Yah (יה), forma abreviada do nome de Deus, pegando a metade dos caracteres (ou, na pronúncia adaptada, os primeiros três caracteres), formando YAHweh. Segundo essa linha de raciocínio, para Yehowah estar correto, a palavra não poderia ser Aleluia, mas sim Aleluie, já que precisaria estar em conformidade com o nome de Deus em sua forma comprimida.
Portanto, não está “errado” o uso de Jeová, assim como não está errado usar adjetivos diversos, como Elohim, Adonai, Senhor, Mestre, Deus, Todo-Poderoso ou outros, desde que seja levado em conta seu contexto histórico e o seu significado filosófico e teológico. Porém, deve-se levar em consideração que esse não é o nome verdadeiro de Deus, e sim uma forma respeitosa de se referir a Ele.
Além disso, um dos motivos mais citados para o uso de Jeová é justamente desvincular o sentido de Êxodo 3:14 do sentido de João 8:58, removendo de Cristo o status divino, descrito em todo o Novo Testamento, e tornando-o dividido do Pai. Assim, torna-se possível suprimir o sentido de elogios dados apenas à Deus no Antigo Testamento e que também são dados à Cristo no Novo Testamento, como “Senhor” ou “Mestre”, e esse é um artifício usado à exaustão pela Tradução do Novo Mundo como forma de justificação da doutrina antitrinitária. Por este motivo, é necessário muita cautela ao lidar com o nome Jeová, para evitar cair em uma narrativa, e também evitar que outros caiam em uma narrativa de forma parcial.
Então, apesar de não ser exatamente “errado” usar Jeová como o nome de Deus, não é possível recomendar tal tradução em um contexto moderno, tanto pela imprecisão quanto pela associação com movimentos religiosos heterodoxos, e o uso do nome Jeová no contexto atual não se mostra prudente.
Além disso, não se recomenda o uso do nome sagrado em traduções populares de uso litúrgico. O nome sagrado, seja Javé ou Jeová, em sua forma original pode trazer confusão a um leitor leigo, além de trazer confusão à igrejas que possuam cultos ecumênicos, por poder gerar discussões entre defensores de uma ou outra doutrina, e mesmo pela associação da palavra ao uso feito por alguma vertente religiosa específica.
Por fim, apesar de importante para fins históricos, devemos lembrar que Deus não revelou Seu nome até a vinda de Moisés, e o nome revelado se perdeu na época de Cristo. Insistir que a pronúncia do nome divino é essencial para a salvação é negar a salvação à todos que nasceram antes de Moisés ou depois de Cristo, e, biblicamente, soa muito mais como um capricho pessoal do que como uma manifestação de um costume bíblico.
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